Jornalista
Deire Assis do O Popular deixa carreira nas redações para se dedicar a
assessoria
Por Bruno Felipe
Pereira e Isabella Naves
Após 18 anos de
redação, a decisão de sair do jornalismo diário e se dedicar a assessoria veio
após muita reflexão. Para Deire Assis, buscar uma melhor qualidade do modo de
vida foi o que mais motivou a deixar O Popular e se dedicar ao projeto dela.
Formada em jornalismo pela Universidade Federal, Deire têm dois livros lançados
e dá dicas aos novos jornalistas que estão entrando no mercado de trabalho.
Por
que deixar o jornalismo diário, quase 13 anos, para ir trabalhar com
assessoria?
Não foi uma escolha fácil, pois sou muito apaixonada
pelo jornalismo diário, pelo jornalismo de redação. Foi uma opção de modo de
vida mesmo. A vida na redação é um tanto acelerada, um trabalho que não tem
hora. Essencialmente foi uma escolha de melhor modo de vida.
Você
teve dificuldades nessa transição do jornalismo diário para a assessoria?
Sim, bastante dificuldade porque no jornalismo
impresso eu sempre trabalhei com projetos especiais, fazia notícias no dia a
dia, mas sempre me dedicava mais as reportagens. As reportagens são longas, com
vários personagens e você tem a liberdade de escrever mais e na web você precisa
ser objetivo, essa foi uma das maiores dificuldades. Outro aspecto é você
conseguir linkar as outras formas de comunicação com a web, fazer a junção
entre texto, foto e vídeo. É preciso trazer o mesmo conteúdo produzido para
várias plataformas, explorar os assuntos em diferentes canais e por isso a
dificuldade. Como repórter de jornal impresso eu era focada mesmo na questão do
texto, nós contribuíamos apenas com sugestões de fotografias, e agora que o
jornal precisou se aproximar mais da web, nós começamos, aos poucos, gravar
alguns vídeos para web, essa mudança não é simples e nem fácil, mas nós vamos
aprendendo todos os dias para chegar mais próximo possível das exigências da
web.
Qual
a maior dificuldade que o jornalista se depara ao sair da academia e entrar no
mercado de trabalho?
A dificuldade quando saímos da faculdade é
basicamente de encarar o mercado, encontrar pessoas dispostas a dividir
experiências com você. Eu iniciei em uma época no Diário da Manhã que existia
uma exploração da forma de trabalho, eu entrei pra redação para aprender comigo
mesma, o estágio não era regulamentado, os profissionais que escolhiam quem
iria trabalhar então, ir para mercado durante o curso era ilegal e isso soava
ruim na faculdade porque os professores não viam isso com bons olhos, mas eu
tinha uma vontade gigantesca de conhecer como tudo funcionava.
Foi muito complicado, hoje considero que foi uma
escola, mas foi muito na marra, errando demais e passando por situações que os
estudantes hoje não passam, porque já existe o estágio regulamentado e pessoas
com condições de contribuir com esse aprendizado. Quando você chegar no mercado
de trabalho procure se aproximar dos profissionais que você admira, peça ajuda,
bata um papo no dia a dia, essa contribuição que se dá entre as pessoas é o que
nos ajuda a aprimorar o nosso trabalho. Trabalhar sozinho é complicado e eu me
sentia só porque eu não tinha ajuda.
Quando deixei a faculdade para ir pra redação foi
pra ser repórter mesmo, no segundo e terceiro ano de jornalismo, eu fechava a
edição do jornal sozinha, hoje quando me lembro, vejo que era um absurdo. Eu
aprendi demais, mas era errado e não tinha que ser assim, é preciso alguém te
auxiliando e contribuindo com você.
Pode
nos contar um pouco sobre a sua experiência como repórter no jornal O Popular?
Eu trabalhei muito com produção de grandes
reportagens. No dia a dia eu só fazia reportagem diária quando era necessário,
geralmente eu ficava com a parte de reportagens especiais e isso é muito bacana
porque eu tinha condições de trabalhar projetos mais completos.
Nós fizemos grandes trabalhos, séries de reportagem
sobre trânsito, e acho que a gente contribuiu um pouco com algumas
manifestações comportamentais na cidade, movimentado as pessoas, os leitores,
pra consciência da boa prática no trânsito, então acabei trabalhando muito
nessa área.
Ao longo do tempo de repórter no jornal, eu fui
convidada, quando uma colega saiu, para assinar, uma vez na semana, uma coluna
jurídica. Aquilo foi um susto pra mim inicialmente, porque quando no jornal, eu
brincava muito com o pessoal da área jurídica, falando que “se eu tiver que fazer isso eu vou morrer de fome”, porque eu dizia
que a maioria das coisas eu não sabia se era de comer ou passar na cabeça, os
termos do juridiquês, daquela coisa
toda. Quando eu fui convidada para fazer, eu me apaixonei por ele, o judiciário
mexe com a vida de qualquer pessoa, do mais simples ao mais rico, ele decide de
fato a vida das pessoas.
Você ter condições de entrar ali naqueles
bastidores, descobrir boas histórias, então, aquilo me deixou, depois, muito
feliz, e foi justamente a minha aproximação com esse cenário, nessa área
jurídica, que me fez fazer o trabalho que eu faço agora, porque hoje eu
assessoro uma associação na área jurídica e trabalho como editora em uma agência
em que 90% dos seus clientes são da área jurídica.
Quando
você começou no jornalismo diário, você foi obrigada a mudar de hábitos de
vidas e valores?
Hábitos de vida eu não diria abrir mão, mas ficou
difícil na época uma rotina mais saudável, digamos assim, ter um tempo maior de
descanso, estar mais em contato com a família, essas coisas todas, acabou que eu
tive uma perda ao longo do tempo, porque eu era, meio que, repórter 24 horas
por dia, era muito focada no trabalho. Teve um determinado momento, acho que
depois de uns 2 anos que eu estava no O Popular, que eles me chamaram pra ser
repórter fulltime, ai lascou tudo, porque eu entrava de manhã no jornal, e saia
de noite, eu me envolvi muito com aquilo.
Chegou num determinado ponto que eu cheguei a
equilibrar aquilo, você vai ganhando um pouco de experiência, de confiança do
veículo, você vai conseguindo ganhar um pouco de espaço, estabelecendo um pouco
mais seus horários, conseguindo negociar mais as coisas e isso vai acontecendo.Então,
nessa questão de hábitos de vida eu perdi um pouco de tempo pra família, um
pouco de tempo pra mim mesmo, essas coisas de lazer, isso eu não tinha muito.
Agora, mudar, em termos de conceito de vida, de
valores, não houve isso, eu levei toda a minha bagagem que eu tinha, aquilo que
eu acreditava, a minha visão de mundo, isso estava muito presente no meu
trabalho. Não era uma Deire fora do jornal e uma Deire para produzir meus
trabalhos, quando eu ia atrás das minhas fontes ou quando ia fazer as minhas
matérias, eu tinha a responsabilidade da informação, isenta, real, verdadeira,
é claro que quem estava ali apurando, escrevendo era eu, com todos os valores
que eu tenho, com aquilo que eu acredito.
Qual
dica você pode dar para os jornalistas iniciantes?
Se está ruim hoje, já foi bem pior. Eu passei pela
sala de aula por 1 ano e meio e tenho muitos amigos das redações na academia, o
que me deixa muito feliz. Tem bons profissionais, que estão no mercado dando
aula. Isso já é de fato um ganho com os novos profissionais.
De modo geral, eu percebo que os cursos têm se
voltado cada vez mais pra essa necessidade de aproximar o mercado e a
faculdade. A própria regularização do estágio foi um ganho muito grande. Porque
antes era de forma clandestina e era tudo feito de qualquer jeito. Vocês já
pegaram uma fase bem melhor.
Ao longo dos últimos anos tenho trabalhado com
profissionais recém-formados e eu te digo que conheci todos os tipos de
profissionais e hoje eles têm a disposição para aprender na prática. Porque uma
coisa é você aprender os conceitos, o método e tudo mais. Mas o jornalismo tem
uma particularidade que se chama decidir o fato concreto.
No jornalismo você aprende os conceitos, a técnica,
mas você não faz notícia do mesmo assunto e do mesmo jeito. Então no dia-a-dia é
preciso ter a convivência com um jornalista, experiência e disponibilidade em
aprender, e a humildade em saber que você está começando na carreira.
Eu tive contato com pessoas que não tiveram contato
com a profissão, que tinha uma postura de que não precisava aprender e que
diziam já saber de tudo, isso eu acho condenável. Eu, com uma caminhada considerável,
aprendo todo dia. Estou disposta, disponível, perguntando, trocando informações
com colegas, ter disponibilidade é uma dica. Você vai se enriquecer muito se,
se abrir a isso.
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