Espetáculos originais perdem espaço para roteiros baseados em
histórias da Disney e filmes contemporâneos
O ator, diretor e técnico de cultura do Sesc de Goiânia, Wellington Dias, se preocupa com os rumos que o teatro infantil tem tomado. “Ele saiu do plano do teatro para crianças e virou o que podemos chamar de teatro infantil. Eu entendo o teatro infantil como uma linguagem específica para crianças, em que ela seja representada, e não é isso o que temos visto por aqui.”
Esse contexto não é exclusivo de Goiânia. “O nordeste, por exemplo, que trabalha muito com a linguagem do palhaço e do circo, infelizmente tem comprado espetáculos de reprodução audiovisual como Bob Esponja e Irmão Urso”, lamenta Wellington Dias.
A atriz e produtora da Companhia do Gesto Ana Carina Santos, do Rio de Janeiro, diz que no sudeste não é diferente, mas que não vê problemas em se fazer adaptações de filmes, animações ou livros para o teatro. O problema enxergado por ela é a forma vazia com que se fazem essas adaptações. “Isso é subestimar o imaginário do público e a potência que o teatro tem de promover encontros. Qualquer filme ou animação faz efeitos especiais melhores do que seria possível fazer no teatro. Então, por que ir ao teatro, se no cinema é melhor?”
DificuldadesMuitas vezes o motivo de se fazer uma
peça teatral com elementos já consagrados, como as histórias da
Disney, não é uma escolha, mas a única opção. Em Goiânia e em grande parte do
Brasil, a dificuldade em se fazer teatro é muito grande, pois tanto o governo
federal quanto a maioria das prefeituras não disponibilizam grande incentivo a
essa atividade, obrigando diretores e produtores a optar por histórias que são
facilmente rentáveis para evitar que as companhias não entrem em crise
financeira ou até mesmo declarem falência.
O produtor e diretor de teatro infantil Luiz Roberto Pinheiro, que trabalha há mais de 10 anos com dramaturgia para crianças, enxerga dificuldades em se fazer não só teatro infantil, mas qualquer tipo de espetáculo teatral. “Somos desprovidos de apoio dos órgãos do governo. É muito difícil conseguir ajuda por meio das leis de incentivo, tudo é adquirido com muito sacrifício. As taxas cobradas para se fazer teatro são muito caras, pagamos impostos absurdos à prefeitura. Fazer teatro no Brasil requer muitas doses de paciência”, relata.
Mesmo com uso de histórias conhecidas para produção de espetáculos, todo cuidado é pouco, pois o teatro infantil não é um teatro “menor”, como muitas pessoas pensam. Ele possui os mesmos desafios, dificuldades, força, custos de produção, suor dos artistas em ensaio e pesquisa de linguagem, como qualquer outro espetáculo teatral. A maior diferença é apenas o público, pois a maneira de emocionar é a mesma.
Segundo Ana Carina, caso o espetáculo seja mal feito, os maiores prejudicados são os próprios atores e o cenário teatral, pois podem perder para sempre um espectador. “Um espetáculo que não se comunica com o público a que se destina prejudica, antes de qualquer coisa, o próprio artista. A criança não ficará traumatizada ou terá problemas em sua vida futura por conta de ter visto um espetáculo ruim. Ao contrário, o público infantil é de uma extrema honestidade e, se o artista não for honesto no que faz, não se comunicará com ela e essa criança reagirá demonstrando claramente seu desagrado, podendo se tornar um adulto que não gosta de teatro”, esclarece.
O produtor e diretor de teatro infantil Luiz Roberto Pinheiro, que trabalha há mais de 10 anos com dramaturgia para crianças, enxerga dificuldades em se fazer não só teatro infantil, mas qualquer tipo de espetáculo teatral. “Somos desprovidos de apoio dos órgãos do governo. É muito difícil conseguir ajuda por meio das leis de incentivo, tudo é adquirido com muito sacrifício. As taxas cobradas para se fazer teatro são muito caras, pagamos impostos absurdos à prefeitura. Fazer teatro no Brasil requer muitas doses de paciência”, relata.
Mesmo com uso de histórias conhecidas para produção de espetáculos, todo cuidado é pouco, pois o teatro infantil não é um teatro “menor”, como muitas pessoas pensam. Ele possui os mesmos desafios, dificuldades, força, custos de produção, suor dos artistas em ensaio e pesquisa de linguagem, como qualquer outro espetáculo teatral. A maior diferença é apenas o público, pois a maneira de emocionar é a mesma.
Segundo Ana Carina, caso o espetáculo seja mal feito, os maiores prejudicados são os próprios atores e o cenário teatral, pois podem perder para sempre um espectador. “Um espetáculo que não se comunica com o público a que se destina prejudica, antes de qualquer coisa, o próprio artista. A criança não ficará traumatizada ou terá problemas em sua vida futura por conta de ter visto um espetáculo ruim. Ao contrário, o público infantil é de uma extrema honestidade e, se o artista não for honesto no que faz, não se comunicará com ela e essa criança reagirá demonstrando claramente seu desagrado, podendo se tornar um adulto que não gosta de teatro”, esclarece.
Estereótipo da
princesa Mesmo que o espetáculo seja bem
feito e traga uma mensagem útil para o universo infantil, ao utilizar uma história
já pronta como Cinderela, o responsável
pelo espetáculo está inserindo na mente das crianças uma cultura que não é
brasileira, é o que afirma Wellington Dias. “A reprodução do cinema
contemporâneo pelo teatro brasileiro representa a cultura de um povo que não é
o nosso. Se eu pego uma atriz e pinto o cabelo dela de loiro, coloco uma lente
azul e digo que ela precisa ser assim para ser princesa, que valor eu passo para
a criança?”
Uma recente pesquisa, realizada em 2011 e divulgada no início desse ano pela antropóloga Michele Escoura, dá a resposta para a pergunta de Wellington. A pesquisadora entrevistou 200 crianças com idade de 5 anos em escolas públicas e particulares do interior de São Paulo e perguntou quais as principais características que uma princesa deveria possuir. A maioria dos entrevistados disse que uma princesa “verdadeira” deveria ser jovem, bonita, magra, possuir joias e vestidos, casar-se com um príncipe e ser loira.
O objetivo da pesquisa era entender como as princesas de duas animações da Disney influenciavam a visão de feminilidade de meninos e meninas da pré-escola. As reações das crianças diante de duas histórias centradas em protagonistas femininas (Cinderela de 1950 e Mulan de 1998) mostraram que a ideia de princesa para elas está ligada a obter sucesso no amor e possuir beleza tradicional.
De acordo com Michele, esse padrão de beleza não é visto apenas nos filmes da Disney, essas características também estão presentes em novelas, revistas e na mídia de forma geral. “O risco é as crianças só terem contato com um único referencial de beleza e feminilidade. Precisamos valorizar e dar importância para outros tipos de feminilidade”, afirma a pesquisadora em entrevista recente para a revista Carta Capital.
Uma recente pesquisa, realizada em 2011 e divulgada no início desse ano pela antropóloga Michele Escoura, dá a resposta para a pergunta de Wellington. A pesquisadora entrevistou 200 crianças com idade de 5 anos em escolas públicas e particulares do interior de São Paulo e perguntou quais as principais características que uma princesa deveria possuir. A maioria dos entrevistados disse que uma princesa “verdadeira” deveria ser jovem, bonita, magra, possuir joias e vestidos, casar-se com um príncipe e ser loira.
O objetivo da pesquisa era entender como as princesas de duas animações da Disney influenciavam a visão de feminilidade de meninos e meninas da pré-escola. As reações das crianças diante de duas histórias centradas em protagonistas femininas (Cinderela de 1950 e Mulan de 1998) mostraram que a ideia de princesa para elas está ligada a obter sucesso no amor e possuir beleza tradicional.
De acordo com Michele, esse padrão de beleza não é visto apenas nos filmes da Disney, essas características também estão presentes em novelas, revistas e na mídia de forma geral. “O risco é as crianças só terem contato com um único referencial de beleza e feminilidade. Precisamos valorizar e dar importância para outros tipos de feminilidade”, afirma a pesquisadora em entrevista recente para a revista Carta Capital.
A professora de artes e especialista
em inclusão social Tânia Mariano diz que, além da escassez de espetáculos
artísticos na cidade, é extremamente difícil ensinar arte para as crianças e
adolescentes por não existir apoio governamental. “Infelizmente o governo
parece acreditar que a disciplina de arte não é tão importante como português
ou biologia, pois não disponibiliza para os alunos nem para os professores
livros ou qualquer tipo de material didático. Nós temos que nos virar
praticamente sozinhos”, conta a professora.
Mas, apesar das dificuldades, Tânia
não desiste de inserir os jovens no mundo da arte. “Como é muito difícil e caro
montar um cenário para um espetáculo teatral, eu trabalho principalmente com o
uso de fantoches que os próprios alunos confeccionam. Até agora, o resultado
tem sido bastante satisfatório e as crianças têm gostado bastante”, relata a
educadora.