segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Reproduções de filmes tomam conta do teatro goianiense


 Espetáculos originais perdem espaço para roteiros baseados em histórias da Disney e filmes contemporâneos

 
Espetáculos teatrais e qualquer outra expressão de arte para crianças é um estímulo do imaginário e da criatividade. Crianças com acesso a peças teatrais, dança, pinturas, livros e música têm seu potencial criativo reforçado e ampliado e, possivelmente, se tornarão adultos mais originais. Mas, ao analisar o cenário da dramaturgia infantil em Goiânia, o que vemos, em sua maioria, são apenas  cópias de clássicos da  Disney e sucessos do cinema contemporâneo, como A Fuga das Galinhas, Alladin, Valente, Rio, Procurando Nemo, entre outros.

O ator, diretor e técnico de cultura do Sesc de Goiânia, Wellington Dias, se preocupa com os rumos que o teatro infantil tem tomado. “Ele saiu do plano do teatro para crianças e virou o que podemos chamar de teatro infantil. Eu entendo o teatro infantil como uma linguagem específica para crianças, em que ela seja representada, e não é isso o que temos visto por aqui.”

Esse contexto não é exclusivo de Goiânia. “O nordeste, por exemplo, que trabalha muito com a linguagem do palhaço e do circo, infelizmente tem comprado espetáculos de reprodução audiovisual como Bob Esponja e Irmão Urso”, lamenta Wellington Dias.  

A atriz e produtora da Companhia do Gesto Ana Carina Santos, do Rio de Janeiro, diz que no sudeste não é diferente, mas que não vê problemas em se fazer adaptações de filmes, animações ou livros para o teatro. O problema enxergado por ela é a forma vazia com que se fazem essas adaptações. “Isso é subestimar o imaginário do público e a potência que o teatro tem de promover encontros. Qualquer filme ou animação faz efeitos especiais melhores do que seria possível fazer no teatro. Então, por que ir ao teatro, se no cinema é melhor?”

 
DificuldadesMuitas vezes o motivo de se fazer uma peça teatral com elementos já consagrados, como as histórias da Disney, não é uma escolha, mas a única opção. Em Goiânia e em grande parte do Brasil, a dificuldade em se fazer teatro é muito grande, pois tanto o governo federal quanto a maioria das prefeituras não disponibilizam grande incentivo a essa atividade, obrigando diretores e produtores a optar por histórias que são facilmente rentáveis para evitar que as companhias não entrem em crise financeira ou até mesmo declarem falência.

O produtor e diretor de teatro infantil Luiz Roberto Pinheiro, que trabalha há mais de 10 anos com dramaturgia para crianças, enxerga dificuldades em se fazer não só teatro infantil, mas qualquer tipo de espetáculo teatral. “Somos desprovidos de apoio dos órgãos do governo. É muito difícil conseguir ajuda por meio das leis de incentivo, tudo é adquirido com muito sacrifício. As taxas cobradas para se fazer teatro são muito caras, pagamos impostos absurdos à prefeitura. Fazer teatro no Brasil requer muitas doses de paciência”, relata.

Mesmo com uso de histórias conhecidas para produção de espetáculos, todo cuidado é pouco, pois o teatro infantil não é um teatro “menor”, como muitas pessoas pensam. Ele possui os mesmos desafios, dificuldades, força, custos de produção, suor dos artistas em ensaio e pesquisa de linguagem, como qualquer outro espetáculo teatral. A maior diferença é apenas o público, pois a maneira de emocionar é a mesma.

Segundo Ana Carina, caso o espetáculo seja mal feito, os maiores prejudicados são os próprios atores e o cenário teatral, pois podem perder para sempre um espectador. “Um espetáculo que não se comunica com o público a que se destina prejudica, antes de qualquer coisa, o próprio artista. A criança não ficará traumatizada ou terá problemas em sua vida futura por conta de ter visto um espetáculo ruim. Ao contrário, o público infantil é de uma extrema honestidade e, se o artista não for honesto no que faz, não se comunicará com ela e essa criança reagirá demonstrando claramente seu desagrado, podendo se tornar um adulto que não gosta de teatro”, esclarece.
 

Estereótipo da princesa Mesmo que o espetáculo seja bem feito e traga uma mensagem útil para o universo infantil, ao utilizar uma história já pronta como Cinderela, o responsável pelo espetáculo está inserindo na mente das crianças uma cultura que não é brasileira, é o que afirma Wellington Dias. “A reprodução do cinema contemporâneo pelo teatro brasileiro representa a cultura de um povo que não é o nosso. Se eu pego uma atriz e pinto o cabelo dela de loiro, coloco uma lente azul e digo que ela precisa ser assim para ser princesa, que valor eu passo para a criança?”

Uma recente pesquisa, realizada em 2011 e divulgada no início desse ano pela antropóloga Michele Escoura, dá a resposta para a pergunta de Wellington. A pesquisadora entrevistou 200 crianças com idade de 5 anos em escolas públicas e particulares do interior de São Paulo e perguntou quais as principais características que uma princesa deveria possuir. A maioria dos entrevistados disse que uma princesa “verdadeira” deveria ser jovem, bonita, magra, possuir joias e vestidos, casar-se com um príncipe e ser loira.

O objetivo da pesquisa era entender como as princesas de duas animações da Disney influenciavam a visão de feminilidade de meninos e meninas da pré-escola. As reações das crianças diante de duas histórias centradas em protagonistas femininas (Cinderela de 1950 e Mulan de 1998) mostraram que a ideia de princesa para elas está ligada a obter sucesso no amor e possuir beleza tradicional.

De acordo com Michele, esse padrão de beleza não é visto apenas nos filmes da Disney, essas características também estão presentes em novelas, revistas e na mídia de forma geral. “O risco é as crianças só terem contato com um único referencial de beleza e feminilidade. Precisamos valorizar e dar importância para outros tipos de feminilidade”, afirma a pesquisadora em entrevista recente para a revista Carta Capital.
           
As festas infantis acabam mostrando muito do gosto das crianças. Confira as fotos abaixo e confira quais são os temas mais usados.
 
 





 
 

 
Arte no interiorSe nos grandes centros do país existe uma grande dificuldade em se fazer teatro, no interior é praticamente impossível. Na cidade goiana de Adelândia, a atividade artística é quase inexistente e o único contato com a arte que as crianças possuem é através de companhias circenses que visitam a cidade algumas vezes ao ano.

A professora de artes e especialista em inclusão social Tânia Mariano diz que, além da escassez de espetáculos artísticos na cidade, é extremamente difícil ensinar arte para as crianças e adolescentes por não existir apoio governamental. “Infelizmente o governo parece acreditar que a disciplina de arte não é tão importante como português ou biologia, pois não disponibiliza para os alunos nem para os professores livros ou qualquer tipo de material didático. Nós temos que nos virar praticamente sozinhos”, conta a professora.

Mas, apesar das dificuldades, Tânia não desiste de inserir os jovens no mundo da arte. “Como é muito difícil e caro montar um cenário para um espetáculo teatral, eu trabalho principalmente com o uso de fantoches que os próprios alunos confeccionam. Até agora, o resultado tem sido bastante satisfatório e as crianças têm gostado bastante”, relata a educadora.
 

 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Renovando os ares


Jornalista Deire Assis do O Popular deixa carreira nas redações para se dedicar a assessoria

Por Bruno Felipe Pereira e Isabella Naves


Após 18 anos de redação, a decisão de sair do jornalismo diário e se dedicar a assessoria veio após muita reflexão. Para Deire Assis, buscar uma melhor qualidade do modo de vida foi o que mais motivou a deixar O Popular e se dedicar ao projeto dela. Formada em jornalismo pela Universidade Federal, Deire têm dois livros lançados e dá dicas aos novos jornalistas que estão entrando no mercado de trabalho.

Por que deixar o jornalismo diário, quase 13 anos, para ir trabalhar com assessoria?

Não foi uma escolha fácil, pois sou muito apaixonada pelo jornalismo diário, pelo jornalismo de redação. Foi uma opção de modo de vida mesmo. A vida na redação é um tanto acelerada, um trabalho que não tem hora. Essencialmente foi uma escolha de melhor modo de vida.

Você teve dificuldades nessa transição do jornalismo diário para a assessoria?

Sim, bastante dificuldade porque no jornalismo impresso eu sempre trabalhei com projetos especiais, fazia notícias no dia a dia, mas sempre me dedicava mais as reportagens. As reportagens são longas, com vários personagens e você tem a liberdade de escrever mais e na web você precisa ser objetivo, essa foi uma das maiores dificuldades. Outro aspecto é você conseguir linkar as outras formas de comunicação com a web, fazer a junção entre texto, foto e vídeo. É preciso trazer o mesmo conteúdo produzido para várias plataformas, explorar os assuntos em diferentes canais e por isso a dificuldade. Como repórter de jornal impresso eu era focada mesmo na questão do texto, nós contribuíamos apenas com sugestões de fotografias, e agora que o jornal precisou se aproximar mais da web, nós começamos, aos poucos, gravar alguns vídeos para web, essa mudança não é simples e nem fácil, mas nós vamos aprendendo todos os dias para chegar mais próximo possível das exigências da web.

Qual a maior dificuldade que o jornalista se depara ao sair da academia e entrar no mercado de trabalho?

A dificuldade quando saímos da faculdade é basicamente de encarar o mercado, encontrar pessoas dispostas a dividir experiências com você. Eu iniciei em uma época no Diário da Manhã que existia uma exploração da forma de trabalho, eu entrei pra redação para aprender comigo mesma, o estágio não era regulamentado, os profissionais que escolhiam quem iria trabalhar então, ir para mercado durante o curso era ilegal e isso soava ruim na faculdade porque os professores não viam isso com bons olhos, mas eu tinha uma vontade gigantesca de conhecer como tudo funcionava.

Foi muito complicado, hoje considero que foi uma escola, mas foi muito na marra, errando demais e passando por situações que os estudantes hoje não passam, porque já existe o estágio regulamentado e pessoas com condições de contribuir com esse aprendizado. Quando você chegar no mercado de trabalho procure se aproximar dos profissionais que você admira, peça ajuda, bata um papo no dia a dia, essa contribuição que se dá entre as pessoas é o que nos ajuda a aprimorar o nosso trabalho. Trabalhar sozinho é complicado e eu me sentia só porque eu não tinha ajuda.

Quando deixei a faculdade para ir pra redação foi pra ser repórter mesmo, no segundo e terceiro ano de jornalismo, eu fechava a edição do jornal sozinha, hoje quando me lembro, vejo que era um absurdo. Eu aprendi demais, mas era errado e não tinha que ser assim, é preciso alguém te auxiliando e contribuindo com você.

 

Pode nos contar um pouco sobre a sua experiência como repórter no jornal O Popular?

Eu trabalhei muito com produção de grandes reportagens. No dia a dia eu só fazia reportagem diária quando era necessário, geralmente eu ficava com a parte de reportagens especiais e isso é muito bacana porque eu tinha condições de trabalhar projetos mais completos.

Nós fizemos grandes trabalhos, séries de reportagem sobre trânsito, e acho que a gente contribuiu um pouco com algumas manifestações comportamentais na cidade, movimentado as pessoas, os leitores, pra consciência da boa prática no trânsito, então acabei trabalhando muito nessa área.

Ao longo do tempo de repórter no jornal, eu fui convidada, quando uma colega saiu, para assinar, uma vez na semana, uma coluna jurídica. Aquilo foi um susto pra mim inicialmente, porque quando no jornal, eu brincava muito com o pessoal da área jurídica, falando que “se eu tiver que fazer isso eu vou morrer de fome”, porque eu dizia que a maioria das coisas eu não sabia se era de comer ou passar na cabeça, os termos do juridiquês, daquela coisa toda. Quando eu fui convidada para fazer, eu me apaixonei por ele, o judiciário mexe com a vida de qualquer pessoa, do mais simples ao mais rico, ele decide de fato a vida das pessoas.

Você ter condições de entrar ali naqueles bastidores, descobrir boas histórias, então, aquilo me deixou, depois, muito feliz, e foi justamente a minha aproximação com esse cenário, nessa área jurídica, que me fez fazer o trabalho que eu faço agora, porque hoje eu assessoro uma associação na área jurídica e trabalho como editora em uma agência em que 90% dos seus clientes são da área jurídica.

 

Quando você começou no jornalismo diário, você foi obrigada a mudar de hábitos de vidas e valores?

Hábitos de vida eu não diria abrir mão, mas ficou difícil na época uma rotina mais saudável, digamos assim, ter um tempo maior de descanso, estar mais em contato com a família, essas coisas todas, acabou que eu tive uma perda ao longo do tempo, porque eu era, meio que, repórter 24 horas por dia, era muito focada no trabalho. Teve um determinado momento, acho que depois de uns 2 anos que eu estava no O Popular, que eles me chamaram pra ser repórter fulltime, ai lascou tudo, porque eu entrava de manhã no jornal, e saia de noite, eu me envolvi muito com aquilo.

Chegou num determinado ponto que eu cheguei a equilibrar aquilo, você vai ganhando um pouco de experiência, de confiança do veículo, você vai conseguindo ganhar um pouco de espaço, estabelecendo um pouco mais seus horários, conseguindo negociar mais as coisas e isso vai acontecendo.Então, nessa questão de hábitos de vida eu perdi um pouco de tempo pra família, um pouco de tempo pra mim mesmo, essas coisas de lazer, isso eu não tinha muito.

Agora, mudar, em termos de conceito de vida, de valores, não houve isso, eu levei toda a minha bagagem que eu tinha, aquilo que eu acreditava, a minha visão de mundo, isso estava muito presente no meu trabalho. Não era uma Deire fora do jornal e uma Deire para produzir meus trabalhos, quando eu ia atrás das minhas fontes ou quando ia fazer as minhas matérias, eu tinha a responsabilidade da informação, isenta, real, verdadeira, é claro que quem estava ali apurando, escrevendo era eu, com todos os valores que eu tenho, com aquilo que eu acredito.

 

Qual dica você pode dar para os jornalistas iniciantes?

Se está ruim hoje, já foi bem pior. Eu passei pela sala de aula por 1 ano e meio e tenho muitos amigos das redações na academia, o que me deixa muito feliz. Tem bons profissionais, que estão no mercado dando aula. Isso já é de fato um ganho com os novos profissionais.

De modo geral, eu percebo que os cursos têm se voltado cada vez mais pra essa necessidade de aproximar o mercado e a faculdade. A própria regularização do estágio foi um ganho muito grande. Porque antes era de forma clandestina e era tudo feito de qualquer jeito. Vocês já pegaram uma fase bem melhor.

Ao longo dos últimos anos tenho trabalhado com profissionais recém-formados e eu te digo que conheci todos os tipos de profissionais e hoje eles têm a disposição para aprender na prática. Porque uma coisa é você aprender os conceitos, o método e tudo mais. Mas o jornalismo tem uma particularidade que se chama decidir o fato concreto.  

No jornalismo você aprende os conceitos, a técnica, mas você não faz notícia do mesmo assunto e do mesmo jeito. Então no dia-a-dia é preciso ter a convivência com um jornalista, experiência e disponibilidade em aprender, e a humildade em saber que você está começando na carreira.

Eu tive contato com pessoas que não tiveram contato com a profissão, que tinha uma postura de que não precisava aprender e que diziam já saber de tudo, isso eu acho condenável. Eu, com uma caminhada considerável, aprendo todo dia. Estou disposta, disponível, perguntando, trocando informações com colegas, ter disponibilidade é uma dica. Você vai se enriquecer muito se, se abrir a isso.

Nostalgia

Procurando um trabalho antigo de faculdade, acabei achando esse. Minha primeira matéria pra TV, e de quebra sobre um dos espetáculos que eu mais amo: Mary Poppins. É bom recordar e ver a evolução que já tive durante esses anos.



Patinadores ganham novo ponto de encontro em Goiânia


 
        Ao contrário do que muitos pensam, nem só de shows, exposições de arte, apresentações de orquestras e festivais de rock vive o Centro Cultural Oscar Niemeyer. O monumento virou ponto de encontro de patinadores, skaters, ciclistas e curiosos que ficam acompanhando quem decide se arriscar sobre as rodinhas. A estrutura do local vem sendo aprovada para a prática de esportes, seu piso e amplidão são ideais para as rodinhas, em especial, para o patins.
 
          Os patinadores se aventuram no Centro Cultural de segunda a sexta-feira a partir das 18h e, aos finais de semana, durante todo o dia. A febre do patins já trouxe novidades, foi criado o Gyn Inline, que se trata de um grupo de patinadores que divulga encontros e eventos aos adeptos do esporte em uma página do Facebook.
          Vendo todo esse interesse da população, a coordenação do CCON já colocou em andamento um projeto de ampliação da iluminação do local, além de mais seguranças e policiamento no monumento e nas redondezas.
          Dentre os patinadores estão em sua grande maioria eles, os jovens, que estão se tornando cada vez mais adeptos aos esportes e a vidas mais saudáveis. “A diferença é gritante. Depois que mudei minha alimentação e comecei a praticar esportes me sinto muito melhor. Minha disposição é muito maior”, comenta Alberto Santini, de 23 anos, que vai ao Centro Cultural no mínimo três vezes por semana para andar de skate.
          A professora de Educação Física, Lídia Machado, explica que o que o jovem que começa a praticar esportes dificilmente para. Segundo Lídia, os amigos que acabam fazendo, e o fato de estarem  sempre em equipe os atrai bastante para a prática do mesmo. “Os desafios os deixam excitados, querendo mais”, explica a educadora.

 

 

quinta-feira, 22 de maio de 2014



Nunca sei como começar um texto. É, esse defeito não é de hoje, estou sabendo. Mas a vontade de escrever sempre ultrapassa essa minha dificuldade. Escrever me liberta, só assim consigo colocar pra fora certas coisas que ficam me atormentando. Depois de tanto tempo sem escrever no blog, estou aqui novamente. Pretendo vir mais. Preciso. E depois de tanto tempo sem passar por aqui me vem umas mil coisas na cabeça pra falar, mas já sou confusa falando de um assunto só, imagina que maravilha seria vários juntos. Sei que ninguém acompanha esse blog, mas prefiro escrever como se alguém lesse, é melhor assim. Que sejam amigos imaginários, afinal.. Quem é que nunca teve? rs.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Jovens homossexuais são prejudicados por falta de amparo




No Brasil, a falta de leis para proteger e amparar homossexual na juventude reflete no medo que esse grupo tem de assumir a homossexualidade para a família e a sociedade

           
João Barbosa e Isabella Naves                                       


Segundo dados divulgados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2011 foram denunciadas 6.809 violações de direitos humanos contra lesbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT). Os estados com maior incidência foram São Paulo (1.110), Minas Gerais (563) e Rio de Janeiro (518). Goiás ocupou uma das últimas posições, com 137 violações. Dentre as vítimas 67,5% são homens, 26,4% mulheres e 47,1% tinham entre 15 e 29 anos. Ou seja, em quase metade das denúncias, as vítimas são jovens e fazem parte de um grupo que possui menos auxílio específico, pois existem no Brasil diversas Organizações Não Governamentais (ONGs) que protegem e ajudam pessoas que sofrem de com a homofobia, mas as que são exclusivas para jovens são escassas.
            São inúmeros os casos dos jovens que sofrem problemas ao ter que lidar sozinhos com a rejeição familiar, social e até com o próprio preconceito. Muitos deles escondem a homossexualidade da sociedade e principalmente da família, por isso, os nomes adotados nesta reportagem são fictícios. Com o teleoperador Rafael de Souza não foi diferente. Ele teve grande dificuldade para entender o que realmente estava acontecendo. “No início, pensei que fosse apenas uma fase e que poderia controlar meus ‘instintos’, mas quando percebi que não, foi frustrante.” O que fez com que Rafael ficasse mais preocupado foi saber que iria decepcionar a sua família. “Todas as expectativas que meus pais tinham para mim foram por água abaixo”.
A atriz e produtora Luiza Soares, de 20 anos, passou por situações um pouco mais complicadas. “Eu namorei escondida da minha família por dois meses, até a minha mãe me seguir e descobrir tudo.” A jovem, que na época tinha completado 18 anos, foi agredida pela mãe e também expulsa de casa. “Fiquei totalmente desamparada. Eu e minha mãe sempre fomos muito próximas. Eu jamais esperava uma reação dessas, até porque minha mãe nunca teve problemas com meus amigos gays.” Após ser expulsa de casa, Luiza foi morar com o pai, que aceitava melhor sua condição sexual, até conseguir estabilidade financeira para se sustentar. Hoje ela mora com a companheira e também atriz Julia Guerra, de 27 anos, mas a relação das duas ainda não foi aceita pela mãe de Luiza.
O ator Carlos Silva, de 17 anos, também teve que sair de casa impulsionado pelo preconceito da família. “Fui criado pelos meus avós no interior, num ambiente totalmente religioso e homofóbico, por isso, assim que tive chance, me mudei para Goiânia.” Segundo Carlos, foi só com essa mudança que as coisas vieram a melhorar. “Goiânia abriu novas portas para mim, apesar de já ter sofrido preconceito aqui, nada se iguala ao que eu passava com minha família”.
Mas nem sempre as coisas são tão complicadas. O teleoperador Fernando Batista, 24 anos, tem a aceitação de sua homossexualidade por toda a família. “Quanto contei para meus pais, minha mãe foi a única que reagiu de forma negativa, mas, após alguns meses, e com o apoio dos meus irmãos, nossa relação voltou ao normal.” Hoje Rodrigo tem total liberdade de levar o namorado à casa de seus pais. “O levo até nas festas de família, ninguém nunca criou problemas”.


Legislação homossexual

Desde a Grécia antiga há registros de casos de homossexualidade, mas somente na década de 1980 esse grupo chamou a atenção mundial. Esse reconhecimento não surgiu de forma positiva, pois foi motivado pela epidemia de AIDS que se iniciou em meados daquela década. Com a falta de amparo legal para a união entre pessoas do mesmo sexo, quando um casal era afetado pelo vírus, o sobrevivente não era reconhecido judicialmente. Nesse cenário que as primeiras leis tratando da homossexualidade foram criadas em países como Dinamarca, Noruega e Suécia. Foi também nessa época que surgiram os primeiros movimentos LGBT que focavam na igualdade de direitos entre homossexuais e heterossexuais.
            Hoje, apesar dessas lutas ainda existirem no mundo todo, a situação do homossexual em alguns países melhorou bastante, como é o caso do Canadá, Portugal, Argentina e alguns Estados nos EUA, que possuem leis que criminalizam a homofobia e permitem a união entre pessoas do mesmo sexo. No Brasil, apesar de existir a união estável homoafetiva e até o casamento entre pessoas do mesmo sexo no estado de Alagoas e recentemente também o estado de São Paulo, a homofobia ainda não é considerada um crime específico. A homofobia só é condenada no Brasil se for enquadrada como crime de ódio e, de forma genérica, pela Constituição de 1988, que condena qualquer tipo de preconceito.
            Segundo a advogada e professora Ana Paula Félix, especialista em Direito Familiar, o maior problema nas discussões sobre homossexualidade no Brasil é a falta de amparo legal para o jovem que está descobrindo a sua sexualidade. “Dependendo da idade do jovem é possível ele ser apoiado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas não existe nada especifico para a proteção do jovem homossexual, que se encontra numa fase de descobertas, gerando dúvidas, incertezas e preocupações. É necessário um trabalho de cuidado e proteção legal.” Além disso, Ana Paula afirma que deve haver também amparo no âmbito familiar e social, “para que o jovem não cresça e se torne um adulto problemático e inseguro, que acha que deve esconder a sua condição da família e da sociedade”.
            Atualmente está em discussão na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal o Projeto de Lei 122/2006, conhecido como PL 122, que propõe a criminalização dos preconceitos pela condição homossexual e pela identidade de gênero. Apesar de ter sido criado em 2006, o projeto de lei sofre, desde a sua criação, a pressão da bancada evangélica do Senado Federal que alega que a proposta fere a liberdade religiosa de expressão por prever até cinco anos de cadeia para quem criticar publicamente a homossexualidade.


Comissão de Direitos Humanos

            Recentemente foi eleito para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados do Brasil o deputado e pastor da igreja Assembleia de Deus Marco Feliciano (PSC - SP). A eleição do deputado causou grande polêmica e revolta no país, pois Marco Feliciano é conhecido por suas declarações controversas de cunho racista e homofóbico. Essas declarações motivaram varias ONGs, artistas, políticos e até mesmo grupos religiosos a organizarem protestos para tentar tirar o parlamentar da presidência da comissão.
            Para o jornalista e consultor em direitos humanos Liorcino Mendes, os atuais parlamentares não estão preparados para responder as necessidades da população brasileira. “A eleição do pastor Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos demonstra que a atual bancada de parlamentares federais não está ‘antenada’ para as verdadeiras necessidades da população brasileira, especialmente com os direitos humanos.” Para Mendes, o Brasil precisa de uma reforma política, “reduzindo o número excessivo de partidos de aluguel, garantindo o financiamento público de campanha e dando maiores poderes à população que os elegeu”.
            Mesmo enfrentando protestos em todo exigindo a saída do parlamentar da CDHM, Feliciano afirma que não deixará o cargo. Em uma recente entrevista dada a um jornal paulista, o deputado afirma não ser homofóbico e sim um pastor que segue o que está escrito na Bíblia. Ela “é contrária à prática homossexual”.
            Em resposta à nomeação de pastor, um grupo de deputados criou a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, que é um espaço político para assegurar a discussão de temas ligados à diversidade e às minorias, baseando-se nos movimentos sociais e nas populações historicamente excluídas. Segundo os parlamentares que fizeram parte da iniciativa, muitos deles membros da CDHM, a nomeação de Feliciano não permitirá que a Comissão de Direitos Humanos possa exercer corretamente o seu papel.


Ser-tão

                O Ser-tão, é um núcleo de estudos e pesquisas em gênero e sexualidade vinculado à Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás. Criado no fim de 2006 e em atuação até hoje, o núcleo tem como missão a produção de pesquisas e conhecimentos voltados à divulgação e promoção dos direitos sexuais e de gênero. Algumas pesquisas realizadas pelo núcleo são:
o   Mercado GLS: pesquisa sobre a dinâmica e o surgimento de lazer e sociabilidade GLS na cidade de Goiânia;
o   Movimento LGBT: análise da história e da dinâmica de atuação dos movimentos LGBT no estado de Goiás;
o   Políticas Públicas para População LGBT: mapear as políticas públicas governamentais voltadas para o público LGBT;
o   Políticas Culturais LBGT: mapeamento das propostas de ações que envolvem a chamada cultura LGBT e políticas culturais LGBT desenvolvidas no estado de Goiás.
           


PS: Reportagem produzida na aula de Redação Jornalística II para o jornal laboratório da PUC-GO.

terça-feira, 2 de abril de 2013

'Você pensa que é o fim do mundo, mas não é. Você acha que a sua dor é a pior de todas as dores já existentes, mas está enganado. Fácil é sofrer, passar dias trancado no quarto, chorar até que a última gota do seu corpo se esgote. Difícil é superar. E mais difícil ainda é se convencer de que superou. Fácil é acabar com a vida pra acabar com a dor, difícil mesmo é levantar todos os dias com um buraco no peito e colocar a roupa de existir. Dizer que está bem é fácil, complicado é estar. Escutar aquela música, sentir aquele cheiro e visitar aquele lugar parecem ser coisas que ardem o fundo da alma, porque as lembranças doem como álcool em ferida aberta. Mas a verdade é que não sentir mais nada dói bem mais. O fim de um sentimento é mais triste do que o seu fim propriamente dito. É mais difícil enterrar histórias, momentos e sorrisos à enterrar-se. Enquanto ainda há uma faísca em meio ao fogo apagado, de certa forma também ainda há importância. Sofrer por se importar é natural, estranho é sofrer por não fazer mais diferença alguma. Continuar dentro de uma bolha de solidão e sofrimento é escolha sua, assim como lutar pra sair dela também. Fácil é olhar a vida passando e ficar estático no mesmo lugar, amargurado, desiludido, cabisbaixo. Difícil é assumir que está no fundo do poço e, sim, precisa de ajuda. Difícil é estufar o peito e não se deixar abalar por nada. Fácil é chorar pela cicatriz adquirida, difícil é aceita-la como uma tatuagem interna que faz parte de você.'