quinta-feira, 15 de julho de 2010

Simples assim





Ela é casada, tem dois filhos (mas só um é do marido). A filha mais velha ela teve aos 18 anos, foi mãe solteira. A vida nunca foi fácil pra ela. Seus erros não tiveram volta. Estudava e trabalhava, ralava pra caramba. Perdeu festas, noites de sono, tudo porque tinha uma filha pequena. Mas ela não a criava sozinha, tinha a ajuda dos pais que acabaram por criar a menina, pois a mãe sempre estava ausente. O pai da criança não ajudava em nada, chegou a dizer algumas vezes que a filha não era dele. O detalhe é que era impossível, a menina era sua xérox, sempre foi. O pai então se mudou para o exterior, deixando-a mais na mão que nunca. Ficou por lá, queria ganhar dinheiro. O avô materno da menina fez de tudo pra sanar o vazio deixado pelo pai, e quase conseguiu. Se não fosse a menina ter crescido e a falta crescido junto. A mãe se casou, teve outro filho e ela foi ficando ali.. Meio de lado, meio esquecida. O xodó da vovó e do vovô sempre foi uma boa menina. Boas notas, não conversava muito ( o que acabou se tornando um problema depois), brincava sozinha, nunca foi de muitos amigos, mas isso nunca foi um problema. Ficava horas ali, penteando os cabelos de Lisa, sua boneca favorita. Era tímida, muito tímida, com todos, exceto os avós. Até a mãe, primas, a deixavam meio sem jeito, mais calada e quieta. Sempre fez amigos mais velhos. Nos recreios da escola preferia conversar com os professores, com o diretor ou com meninos de classes mais adiantadas. Sempre foi meio adiantada, achava os colegas infantis e bobos demais. E sempre foi assim, ano a ano. Sempre calada. A única coisa que não conseguia largar era a mamadeira e de fazer xixi na cama, isso até o padrasto começar a fazer gracinhas e a pegar no seu pé. E aos dez anos ela parou com ambos. Mas o padrasto achou outro jeito de “brincar” com ela. Colocou apelidos como: Mônica dentuça, vara-pau, bicho-do-mato, pézuda e por aí vai. Ele era brincalhão, era legal, mas esses apelidos, a deixavam muito irritada, e ele sabia, porém.. Não parava.

Ela era desengonçada, cresceu de uma vez só, era a maior da turma, tinha mesmo os dentes bem separados, magrela desde sempre, cabelo liso escorrido ( daqueles que não parava sequer uma liguinha). Coisas que foram mudando aos poucos. O cabelo deixou de ser liso, colocou aparelho nos dentes, já não era tão desengonçada, começou a fazer teatro e foi perdendo gradativamente a timidez. Começou a conversar mais, se abrir mais. Fez amigos com quem foi aos poucos melhorando e aprendendo mais. Ela começou a sorrir, coisa que não fazia. O padrasto já parecia mais legal e parou com os apelidos. Continuava a ser a predileta dos avós. A relação com a mãe melhorou. Continuou a tirar boas notas e a ser boa aluna. Continua a ter amigos mais velhos, porém é bem mais flexível. E muita, mas muita coisa mudou. E hoje a pequena, que já não é tão pequena assim entende que se não fosse por isso tudo, ela não seria ela. E hoje ela gosta do que é. Sempre busca melhorar, mas isso é algo natural, não é mesmo? Mas alem de tudo, o que realmente importa é que ela se sente feliz e a cada dia descobre mais motivos pra sorrir.

2 comentários:

  1. É uma história linda e fiquei pensando se eu não conheço essa menina acho que esbarrei com ela em algum lugar da minha vida e posso te dizer ela é realmente especial bjs

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